O DIREITO AO ENSINO DOMICILIAR (HOMESCHOOLING)
A Comissão de Educação da OAB-DF
promoverá na próxima quinta-feira, dia 22, o Seminário Internacional de
Educação Domiciliar (Homeschooling).
Virá dos Estados Unidos o especialista Mike Donnelly, que é Diretor da Global
da Homeschooling Legal Defense Association - HSLDA, atuando em vários Estados
americanos, professor de Direito Constitucional no Patrick Henry College, além
de ser executivo na London School of Economics, e outros especialistas
brasileiros e autoridades educacionais estarão presentes para debaterem a
modalidade de ensino ainda não regulamentada no Brasil.
O evento não poderia ser mais
oportuno, uma vez que o direito dos pais de educarem seus filhos fora da escola
será pautado, em breve, no STF. O Ministro Barroso entendeu haver repercussão
geral, a partir do caso de uma família que foi à Suprema Corte para garantir o
seu direito de educar seus filhos em casa. A Procuradoria Geral da República
foi conservadora e deu parecer contrário a que a modalidade de ensino seja
permitida à luz da Constituição. Não há como prever o resultado desse
julgamento, pois o tema é novo e não se sabe como cada ministro votará. Por
outro lado, mesmo que o STF julgue contra a pretensão das partes, os pais
adeptos ao homeschooling têm ainda a chance de ver sua pretensão regulamentada,
pois a questão também é discutida no Congresso Nacional, por meio de algumas propostas
legislativas.
O homeschooling não ameaça os sistemas de ensino.
A modalidade de ensino já é admitida
no nosso sistema para os filhos de quem vive fora do país, missionários em
terras indígenas ou para quem está impossibilitado de ir à escola, em virtude
de problemas de saúde. Não há como se ter oposição a essa forma de aprendizagem,
pois não ameaça as escolas do país. Somente pais com boa escolaridade e com
condições de tempo empenham-se nessa fantástica empreitada.
Nos EUA, cerca de 2% das crianças
são ensinadas em casa e não há uma regulamentação rígida do Estado, mas testes
são aplicados para a certificação e aferição da aprendizagem. Na Inglaterra, há
regulamentação e o Estado tenta cada vez mais balizar essa modalidade, dentro
de uma perspectiva de fiscalização e controle. No Brasil não será diferente quando
essa forma de ensino for reconhecida. Afinal de contas, é característica do nosso
país tutelar seus cidadãos ao máximo possível e não seria nessa seara diferente: creio que o
homeschooling seria altamente regulado.
Particularmente,
apesar de ter trocado meus filhos 4 vezes de escola, isso ocorreu sempre por
dois motivos relevantes: perda na confiança do projeto pedagógico e/ou na
capacidade da escola cuidar da integridade física e moral dos meus filhos.
Ressalto que cada mudança foi um sofrimento para mim e para meus filhos, mas
sempre acertamos em cheio na busca do que esperamos da escola. Esse fato, por
si só, para algumas famílias pessoas seria motivo de parar tudo e enfrentar a educação
no lar. Confesso que sou apaixonado pelo ambiente escolar, entretanto, nunca eu
e minha esposa nos descuidamos um só dia do acompanhamento, pari passo, do
ensino ministrado aos nossos filhos.
Penso que o direito à educação deve
ultrapassar as barreiras da tutela estatal, claro que a regulamentação sobre a
matéria será um dia realidade. Por mais que as escolas e o Estado tentem, não
conseguirão acompanhar a evolução tecnológica que traz para a telinha de um
simples celular todo o conhecimento do mundo!
MOVIMENTOS CONTRADITÓRIOS AO ENSINO SOMENTE NA ESCOLA:
Por mais que exista resistência por
parte dos educadores e do governo, há um claro movimento que contradiz as
negativas do ensino domiciliar. A tecnologia não pode ser detida, o das mídias
digitais que impulsionam o EAD e o autodidatismo. Em uma ou duas décadas, a
escola que temos hoje não existirá. Os professores serão meros facilitadores e
orientadores. Os melhores professores estarão empenhados no EAD e na construção
das plataformas do conhecimento digital.
Ensino a distância - EAD
Não há como deter a tecnologia e o
autodidatismo, agora na palma de nossas mãos. E, para o homeschooling, isso é
mais uma força instrumental.
Em maio de 2015, o Presidente Temer
editou um Decreto sobre o EAD, inclusive para o ensino fundamental II. O governo
recuou ao ver a forte reação dos educadores conservadores. A justificativa do
recuo foi de que teria havido um “erro material” na edição do normativo, será? Vemos
a cada dia universidade e escolas implementando o EAD, de alguma forma. Cursos
técnicos estão sendo autorizados a rodo pelos Conselhos Estaduais de Educação e
o do Distrito Federal. Claro que tudo ainda é experimental, mas o mundo todo
está utilizando essa modalidade e se pretende que seja em larga escala.
Lembro-me de que, quando jovem,
aventurei-me a vender a Enciclopédia Britânica. Cheguei a ficar uns meses no
stand de vendas no Parkshopping. Tentava vender, principalmente para pais de
alunos, o que, na época, era o suprassumo do conhecimento em vinte poucos fascículos.
Era a modernidade que precisava de encartes periódicos para atualização. Ter
uma enciclopédia na estante era sinal de grande status social!
Base Nacional Curricular Comum - BNCC
Com a BNCC ficará mais fácil saber
como ensinar e o que a criança e o adolescente precisarão aprender em cada
etapa do ensino. Então, para o homeschooling, a Base será o norteamento para o
aprendizado. Hoje os pais precisam pesquisar muito para ter a certeza de que os
filhos estão aprendendo o conteúdo que a sociedade espera que seus cidadãos saibam.
Assim,
com a BNCC completa, inclusive com a tão esperada reforma do ensino médio, será
mais fácil visualizarmos os caminhos e tempos da aprendizagem, seja na escola
ou no lar.
Exame Nacional para Certificação de Competências de Jovens e
Adultos – ENCCEJA
Outro facilitador que permitirá a
certificação do Ensino Médio, de forma simples, é o ENCCEJA, recentemente implantado
pelo INEP. Com esse exame, a certificação será feita de forma prática. Claro
que as outras etapas como a Provinha Brasil e a Prova Brasil poderão ser
utilizadas para aferição da aprendizagem. O sistema está pronto, é só ter boa
vontade e deixar o conservadorismo de lado.
ALGUNS MOTIVOS DA ESCOLHA PELA EDUCAÇÃO NO LAR:
Os pais adeptos ao homeschooling
são um público diferenciado e antenado com a educação. São pessoas preocupadas
com a ambiência escolar, bullying, violência, trabalho de levar e buscar filhos
na escola que pode durar horas entre idas e vindas. É justo, portanto, que
esses pais possam ter a liberdade de decidir como querem que seus filhos
aprendam os conteúdos escolares.
Sistema de ensino falho e ineficiente
Não há como não criticarmos nossos
sistemas de ensino falhos, tanto da escola pública quanto da particular. Só no
DF temos cerca 673 escolas públicas e 508 particulares. Pelo número de escolas
privadas vemos que o ensino no DF é altamente privatizado. O pior disso é que
poucas escolas têm a qualidade de ensino desejada. Por vezes, as escolas
públicas superam a qualidade da maioria das escolas privadas, que só ganham das
escolas públicas no quesito continuidade do serviço.
Ensino padronizado
Temos atendido muitos pais, das
escolas públicas e privadas, que reclamam que foram surpreendidos com a reprovação
dos filhos no final do ano. Isso é fruto da falta de assunção de responsabilidade
da escola e dos professores que só querem os louros da vitória de seus alunos,
mas não assumem a responsabilidade do método de ensino padronizado que não
alcança a todos os 35 a 50 alunos de uma sala de aula!
Não há como repassar a responsabilidade
para os pais pelo não aprendizado dos filhos. Algo está errado e não é nunca culpa
do aluno. Se o aluno tem dificuldades ou qualquer problema de aprendizagem, a
escola deve dar conta disso, com melhor metodologia, aula e plantões de dúvidas
ou até com adaptação curricular para que os alunos não sejam reprovados e
prossigam em sua trajetória de estudos até a formação.
Dupla jornada de estudos
Com a falha do ensino padronizado,
muitos alunos estão em regime duplo de ensino: o da escola e o homeschooling! Conheço
pais que gastam uma ou mais mensalidades só com reforço escolar. Em suas
residências, é um entra e sai professores de todas as matérias, tentando dar
conta do que a escola não conseguiu.
Boa parte das escolas impõe aos
alunos uma jornada de estudos extenuante e desumana devido à falha na
metodologia do ensino. Não assumem o fracasso dos seus métodos e repassam a responsabilidade
que é sua para os pais. Isso é um massacre e uma violação do direito de ser
criança.
Violência no ambiente escolar e doutrinação
A violência no ambiente escolar em
forma de bullying e outras formas discriminatórias são alguns dos motivos que os
pais querem evitar levar seus filhos, ao menos até o fundamental. Esse medo é real. Pelas estatísticas e
noticiários vemos que a violência no ambiente escolar está sendo importada e só
tende a aumentar.
Não há como negar que existem
muitos professores sem ética profissional e que tentam incutir na cabeça dos
alunos seus conceitos de vida, os quais muitas vezes conflitam com os
princípios da família. Os pais querem criar seus filhos livres de doutrinação política
ou ideológica qualquer e isso é um direito que deve ser assegurado, tanto para
os pais do homeschooling quanto para todos os pais que preferem seus filhos na
escola.
Cumprindo
com seu dever constitucional, a OAB-DF quer ouvir e dar voz aos anseios dos
diversos setores e grupos da sociedade, abrindo suas portas para sediar o
debate em comento, a fim de garantir que o direito de todos a uma educação de
qualidade e formação de cidadãos livres e bem formados seja assegurado. Esses e
outros assuntos serão tratados no nosso Seminário Internacional de Educação
Domiciliar. Inscreva-se e venha debater conosco. Últimas vagas!
Luis
Claudio Megiorin
Presidente da ASPA-DF, Presidente da Comissão de
Educação da OAB-DF e Conselheiro no Conselho de Educação do DF
Espero uma resposta positiva, pois é um tema ja resolvido em outros paises do mundo, com sucesso
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