A EXPERIÊNCIA FINLANDESA NA EDUCAÇÃO BRASILEIRA
Lemos diversos artigos nos
jornais falando sobre a visita da delegação finlandesa ao nosso País para o
seminário sobre educação em São Paulo. Chamou-nos especial atenção algumas idiossincrasias
na educação finlandesa em comparação com a brasileira, na fala da Diretora de
Educação do Ministério de Educação da Finlândia, Jaana Palojärvi.
A verdade inexorável é que não
erramos em dizer que a experiência daquele país da Escandinávia é única e nem
tudo pode ser aplicado à nossa realidade, mas certamente algumas características
servem, sim, para aplicarmos em nosso país, pois são questões inerentes a
qualquer país do mundo, por exemplo, a elevação do status da profissão de
professor e isso é urgente em um país que pretende dar uma guinada na qualidade
da educação.
Então, cabe
ressaltar algumas características da reportagem do jornalista Davi Lira do Estado
de São Paulo:
1) Ser Professor na Finlândia não é para quem
quer, mas para os melhores. Apenas 10% dos candidatos que pretendem entrar
na universidade para serem professores conseguem fazer o curso. E não se pode
ser professor na Finlândia sem ter mestrado.
2) Quanto ao déficit de professores de
química, física e matemática no Brasil. Na Finlândia não é difícil encontrar
professores para essas áreas, apenas para matemática é um pouco difícil.
3) Professores na Finlândia lecionam em apenas
uma escola. Lá, o docente dá aula em apenas uma escola. Geralmente fica com
o mesmo grupo de alunos, acompanhando-os por cerca de 6 anos.
4) Na Finlândia os professores não ganham
super salários. Eles não são nem mal pagos nem tão bem pagos. O salarial
inicial de professor de ensino fundamental é de cerca de € 3.000 (R$ 7.860) por
mês.
5) A Finlândia tem uma das cargas horárias
mais curtas do mundo. Nos anos iniciais do ensino fundamental, por exemplo,
os estudantes ficam entre 3 e 4 horas na escola apenas (não tem ensino integral).
6) Os alunos finlandeses não têm muito dever
escolar para casa. A quantidade de tarefas de casa é baixa. É um sistema
diferente de países asiáticos, que passam muita tarefa.
7) A Finlândia não tem uma avaliação nacional
para o Ensino Médio. Em cada sala, o professor é quem decide como avaliar
seus alunos. Não se acredita muito em testes e controle, foca-se mais no
aprendizado. O sistema é bem descentralizado.
8) Uso de tecnologia em sala de aula não é
prioridade. Existem escolas que trabalham bastante com a tecnologia
aplicada à educação e outras que nem tanto. Mas, no geral, as escolas finlandesas
estão mais interessadas no processo, não no meio. Não importa se os professores
utilizam papel ou aparelhos tecnológicos. O mais importante é a qualidade do
aprendizado.
9) Idade para alfabetização. Não se espera
que os alunos aprendam a ler antes dos 7 ou 8 anos.
10) Na Finlândia as políticas públicas voltadas
para a educação são políticas de Estado e não de Governo. Não importa se o
governo é de direita ou de esquerda, não há descontinuidade.
11) Número
de alunos por sala de aula. São 20 alunos por sala nos anos iniciais do
ensino fundamental. Nos outros níveis da educação básica, o número não
ultrapassa 25 estudantes. Preocupa-se bastante em não ter classes com muitos
alunos.
Destacamos os principais pontos
da matéria sobre os quais fazemos apenas uma análise, ainda que superficial, visto
que não há como comparar algumas características, pois se trata de realidades
muito díspares. A Finlândia tem dimensões infinitamente menores que a do
Brasil. A população finlandesa é de cerca de 5 milhões de habitantes. A Finlândia
tem uma história e cultura que torna o País único no mundo.
Entretanto, algumas
características são inerentes ao ser humano e em qualquer país do mundo ou
cultura, se aplicadas, o sucesso é garantido, vejamos:
1) O reconhecimento da carreira
do professor elevando o status social perpassa por uma mudança de paradigmas e
não tem a ver somente com o salário, mas com a forma como a sociedade vê esses
profissionais. Como vemos a pessoa do professor na escola de nossos filhos?
2) O déficit de professores é uma
realidade no Brasil. Não poderia ser
diferente à medida que todos os anos as universidade despejam no mercado
milhares de talentos em cada área do conhecimento que poderiam ser utilizados
na docência, mas, em virtude da profissão de professor ser tão vilipendiada no
Brasil, sequer passa pela cabeça dos formandos em serem professores.
3) A dedicação exclusiva alivia a
carga do professor e faz com que esse profissional possa se dedicar de maneira
decente aos seus alunos. Isso na Finlândia é notável, pois faz com que alunos
não sejam apenas números na cabeça dos professores. São acompanhados ao longo
de 6 anos pelos mesmos profissionais: o resultado disso é incrível.
4) Salários: interessante notar que os professores finlandeses não recebem
super salários como o senso comum admitia. No DF, a realidade salarial aproxima-se
da Finlândia, mas é preciso cautela quanto a essa análise, pois se deve
considerar outros fatores como as condições de trabalho e o custo de vida do DF
que é, em alguns casos, mais alto que país de primeiro mundo. Quanto ao
restante dos professores do país, há um abismo se comparar os números com os da
Finlândia. Outra característica importante é que temos um dos melhores quadros
de professores do Brasil, mas qualificados, muitos com mestrado ou, no mínimo,
com pós graduação.
Quantos aos itens 5 e 6, mais uma vez não há como
compararmos a realidade, simplesmente porque no Brasil se exige mais preparo
dos alunos, com cargas horárias e um maior conteúdo devido à concorrência no
vestibular. Nos países de primeiro mundo, como a Finlândia, universidade não é
para todos, pois lá existe a opção do nível técnico e só vão para as
universidades os alunos com perfil acadêmico apropriado. Boa parte dos alunos
vai para as escolas politécnicas e se formam em nível técnico, o que lhes rende
uma possibilidade de empregabilidade em tempo mais curto e uma renda compatível
para manter um padrão de vida mais que digno.
No Brasil, os nossos alunos não
têm ainda essa realidade e levará décadas para que esse quadro seja mudado.
Assim, a concorrência é enorme para uma vaga nas melhores universidades públicas.
Mas essa realidade tenderá a mudar, pois com as políticas afirmativas o Governo
escolheu, a nosso ver, mais uma vez o caminho errado. Despejar milhares de
alunos despreparados e sem o perfil acadêmico adequado para cursarem o ensino
superior ao invés de lhes prover um ensino técnico. Talvez esse não seja o
melhor caminho. A universalização do acesso ao ensino superior nos custará caro
a médio e longo prazo, pois corremos o risco de colocar o ensino superior de
excelência na vala comum do ensino básico.
Destacamos a questão da alfabetização do item 9, o que não foi
dito na matéria é que a grande maioria dos alunos finlandeses já vão para a
escola alfabetizados no lar. Os pais finlandeses têm um nível de escolaridade
que lhes permitem essa proeza. Os estímulos são dados desde os primeiros anos
de vida e as crianças ingressam na escola aos 6 ou 7 anos já alfabetizadas.
Isso tem também um caráter histórico. Há alguns séculos a igreja Luterana,
oficial da Finlândia, apenas permitia o casamento de pessoas alfabetizadas.
Ora, não existe nada que impulsione a humanidade mais que o sexo e dinheiro!
Assim, essa cultura permanece até hoje, não por imposição, mas por opção.
Talvez o MEC tenha tomado apenas um recorte dessa realidade para implantar o pouco
ambicioso programa de alfabetização “na idade certa”.
Quanto ao item 11 (número adequado de alunos por sala
de aula), está claro que a quantidade de alunos por sala de aula é, sim, algo
de fundamental importância na vida acadêmica. Professores e alunos ganham com
um numero reduzido de pupilos. Por essa razão, é fácil não ser um número em uma
escola finlandesa. Os resultados são patentes.
Está sobre a mesa do Ministro de
educação há anos o Parecer CEB/CNE nº 8 de 2010, o qual reduz o número de
alunos por sala de aula. Essa foi uma deliberação também da CONAE 2010. Já estamos indo para a CONAE 2014! Falta vontade política. Enquanto isso, nas escolas
privadas a maximização do lucro impõe a professores e alunos uma realidade
diversa: mais de 50 alunos dentro de uma sala de aula. Isso é um absurdo e ninguém
faz nada para mudar essa realidade. Nem os sindicatos de professores, pois às
vezes só lutam por salários, por essa razão temos sempre mais do mesmo.
Concluímos, portanto, que a
observação do sucesso da educação finlandesa é, sem dúvida, algo a ser seriamente
a ser considerado e observado. Entretanto, devemos ter em mente aspectos que
nos unem e os que nos distanciam da experiência educacional finlandesa a fim de
fazermos as adaptações no que for cabível na realidade da educação brasileira.
SAIBA MAIS:
http://www.estadao.com.br/noticias/impresso,na-finlandia-a-profissao-de-professor-e-valorizada-,1035943,0.htm
http://g1.globo.com/educacao/noticia/2013/05/pais-com-melhor-educacao-do-mundo-finlandia-aposta-no-professor.html
Sim, os finlandeses têm a melhor educação, sem dúvida!
ResponderExcluirPara quem pretende aprender finlandês, recomendo aulas em casa pelo skype!
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