PREVISÃO DE AUMENTO DAS MENSALIDADES ESCOLARES É DE 15%
A Capital Federal ostenta o título de possuir a maior renda per capita entre as demais unidades da
Federação. Aqui temos os mais altos cargos da hierarquia do Serviço Público.
Isso traz, sem dúvida, muitas consequências no custo de vida, uma delas é que
na cesta de consumo do brasiliense está um item que pesa muito, a educação.
O Distrito Federal, segundo dados do MEC/INEP, em termos proporcionais, tem o
maior número de Instituições privadas do País. Enquanto na educação básica
o Brasil tem cerca de 85% das matrículas públicas contra 15% das instituições
privadas, no DF são 650 escolas públicas e 480 privadas, sem contar as escolas
clandestinas que são em torno de 200. São cerca de 500 mil alunos nas escolas
públicas e perto de 400 mil nas privadas.
A
cada ano surge uma nova escola no DF. Os empresários estão de olho na renda
alta do brasiliense e investem alto para fazer um chamariz e assim atrair pais
de alunos que estão em busca de novidades. São escolas bilíngues e com
atividades variadas, muita criatividade e marketing. O pior de tudo isso é que
não temos como medir a qualidade do ensino dessas escolas. Mas os últimos dados
do Ideb (Índice de educação básica) mostraram que as escolas privadas não estão
muito melhores que as públicas. No DF, pouquíssimas escolas privadas têm boa
qualidade de ensino.
Segundo
o próprio sindicato das escolas, o “mercado” está aquecido. Escolas expandem-se
comprando outras e abrem filiais. Aproveitam-se do momento em que o ensino
público está decadente e a atenção do Governo e da maioria das instituições que
lutam pela educação está voltada para a melhoria do ensino público. Se o ensino
público for de boa qualidade atrairá uma classe social mais elevada e fará
concorrência com as escolas privadas.
Na verdade, o ensino privado é uma anomalia dentro do sistema de ensino
brasileiro. Sua expansão se deu pelo desinteresse do Estado ao longo dos anos
pela educação pública de qualidade. O que deveria ser exceção virou regra. Isso
é mais perceptível quando comparamos com os países onde o ensino é levado a
sério.
Com a expansão do ensino privado e a extrema liberdade da
iniciativa privada, os sucessivos governos deixaram os pais e alunos largados à
sua própria sorte, como se o sistema privado de educação fosse um mercado e que
se regularia com a concorrência. Afinal, são esses contribuintes que bancam os
dois sistemas de ensino o público e o provado, pagando em dobro pela educação. Isso
é um descalabro total, pois a educação privada é, sim, um serviço público prestado
na modalidade de autorização estatal. Por essa razão os pais e alunos merecem
mais atenção do aparato Estatal, que é o único responsável por essa frenesi
privatista de um setor nada regulado.
Já
ouvimos orientações estapafúrdias de Procons dizendo para os pais individualmente
negociarem o aumento e, se não conseguirem, mudarem para outra escola mais
barata, como forma de “punir” o empresário! Isso é um absurdo total, é a
banalização da defesa do consumidor, pois trata o assunto como se educação
fosse um produto qualquer e que encontra seus substitutos perfeitos indo a um
outro estabelecimento. Costumamos dizer que educação não tem portabilidade. A partir do momento que pais
compram uma ideia de uma escola, repassam para seus filhos que abraçam com amor
e ingenuidade e ali estabelecem laços de afetos com a instituição e com o círculo
social estabelecido.
Assim, não é possível portar todos esses
sentimentos e emoções e levá-los para outro estabelecimento de ensino como se
fosse um produto qualquer. Nesse sentido entra a responsabilidade social do
investidor na educação, pois presta um serviço público de alta relevância e
deve agir de forma a não criar embaraços e prejuízos emocionais e financeiros aos
pais e alunos.
A consequência disso tudo
é que, na verdade, está havendo, sim, forte indício de abusividade nos aumentos
anuais das escolas privadas. Há pelo menos cinco anos os aumentos têm sido
feitos muito além da inflação e nada justifica isso, muito menos a folha de
pagamento que, segundo o SIPROEP (Sindicato dos Professores das escolas particulares),
é o que menos pesa, pois os aumentos anuais são ridiculamente irrisórios.
Na verdade, vemos que o
Poder Público também se esquiva na medida em que não enfrenta essa realidade de
frente a fim de combater abusividades. Existe, sim, uma “caixa preta” que é
exatamente a receita das escolas que ninguém tem coragem de abri-la, pois há um
manto que a encobre, o da iniciativa privada por serem de capital fechado. Em
época que o Governo Federal está envidando todos os esforços para abaixar juros
e o combate inédito dos juros dos cartões de créditos, deveria volver seu olhar
para também conter essa sangria que está sendo feita na área mais nobre, mais
relevante, que é a educação.
A Lei 9.870 de 1999, que
“regula” a questão de aumentos das anuidades escolares, é um grande engodo, uma
falácia do nosso Legislador, pois deixa nas mãos dos pais e alunos a
responsabilidade negociar com as instituições de ensino. Essa lei criou essa
ficção jurídica que é a planilha de custos. Dizemos ficção, pois esse
instrumento só serve para justificar os gastos. Mas falta transparência. Sem
que os órgãos de defesa do consumidor e a Associação de pais e alunos saibam ou
tenham minimamente a noção de receita de cada escola ou faculdade é impossível
saber se está ou não havendo aumentos abusivos.
Foi a ASPA que no ano
passado ingressou com um procedimento na PRODECON (Promotoria de Defesa do
Consumidor) para tentar apurar juntamente com o MP a eventual abusividade dos
aumentos de algumas escolas e faculdades do DF. Este ano tivemos acesso aos
autos do Procedimento e ficamos surpresos quão evasivas são as entidades de
ensino. Algumas apresentaram as planilhas de custos, outras sequer o fizeram.
Após análise chegamos à
conclusão óbvia que é: não há como analisar uma parte contábil somente pelo
prisma das despesas, isso é lógico e não precisa ser contador para saber disso.
Uma análise contábil deve ser feita com o cotejo de DESPESAS e RECEITAS. Sem a receita
jamais o MP poderá saber se está havendo aumento abusivo.
Uma coisa é certa: enquanto os pais de alunos não se unirem em
torno da ASPA, nossos direitos serão sempre preteridos. Nosso alvo é criar
comissões representativas em cada escola a fim de negociarmos melhorias na
estrutura física e pedagógica das escolas. Caso o aumento seja inevitável, é
possível que os pais organizados, negociem com as escolas e consigam ter algumas
reivindicações atendidas. Mas se verificarmos que há abuso, a ASPA poderá entrar
com Ações Coletivas contra os estabelecimentos de ensino e na Justiça será
possível requisitar informações sigilosas (Receita, por exemplo) para que se
possa verificar eventuais abusividades.
RESUMO
DOS PEDIDOS FEITOS AO MP NA 1ª e 3ª PRODECON
a) requisição de informações complementares
às Instituições de Ensino de ensino e após, e perícia contábil do MPDFT; b) Planinhas
de custos dos últimos três anos 2010, 2011 e 2012; c) Relação dos valores das
mensalidades praticadas por curso e série nos anos de 2011 e 2012, das
entidades que ainda não apresentaram; d) Número de alunos por curso, turma e ano,
(série); e) que sejam apresentados os
contratos de aluguéis e preços vigentes em 2011 e 2012, das entidades que têm
suas planilhas essa despesa; f) Balanços
patrimoniais e demonstração de resultados do exercício, referentes ao ano 2010,
2011 até o momento devidamente assinado pelo contador.
Por Luis Claudio Megiorin, Advogado, Presidente da ASPA, Coordenador Regional da CONFENAPA e Membro da Comissão de Direito do Consumidor da OAB-DF.
Por Luis Claudio Megiorin, Advogado, Presidente da ASPA, Coordenador Regional da CONFENAPA e Membro da Comissão de Direito do Consumidor da OAB-DF.
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