O mais recente ataque ao ENEM é mais uma prova concreta de que o povo brasileiro continua mal das pernas. A economia vai de vento em popa, mas o povo continua vivendo o pesadelo de um povo sofrido e submisso. Por que criticar os políticos corruptos se eventos como mais essa fraude do ENEM nascem no meio do povo? Não são os políticos, afinal, representantes escolhidos pelo próprio povo?
Todos sabemos que há pessoas passando fome em nosso país, mas também sabemos que o brasileiro não sabe dar valor à maravilha que é esse Brasil. É nítido o desprezo pela coisa pública. Na verdade, mesmo por aquilo que as próprias pessoas possuem. O brasileiro é um povo desleixado. Começou a ganhar um pouco mais de dinheiro, mas continua se vendendo barato. Vai a uma loja comprar a prazo e não sabe fazer as contas e se deixa ser enganado. E as companhias telefônicas, o que dizer dessas máquinas de fazer dinheiro frente ao desprezo que tem por aqueles que as sustentam? Pelo menos são estrangeiras...
Mas há pelo menos uma solução para o brasileiro aprender a dar valor àquilo que tem: perdendo tudo. Quem sabe as catástrofes naturais não estejam prontas a nos fazer dar valor às pessoas, e mesmo às coisas materiais... O espírito de se aproveitar de quem quer que seja continua vivo como nunca. Se é possível roubar questões de uma prova sem ser percebido, ele rouba. Se é possível se apossar de bens ou dinheiro de outros, ele se apossa. O Brasil arrecada bilhões de reais em impostos a cada ano e há desvios de dinheiro em todas as instâncias, em orçamentos de obras supostamente criadas para melhorar a vida das pessoas, em hospitais. Há desvios de verbas direcionadas para a merenda escolar de crianças até então inocentes. Vergonha! Vergonha nacional.
Seria a educação o caminho para realmente tirar as pessoas desse marasmo? Se sim, é preciso definir e decidir como vamos cuidar do nosso sistema educacional. Se vamos permitir, por exemplo, que as escolas privadas continuem suas práticas sem serem questionadas. Se vamos permitir que cada um avalie sua contribuição de forma individual e isolada.
Quero crer que aqueles que pregam que as avaliações padronizadas em larga escala não fornecem resultados úteis aos sistemas educacionais pouco ou nada sabem sobre o assunto. Naturalmente, há facções pouco interessadas em continuar aparecendo no cenário educacional como tendo sido “reprovadas” nessas avaliações, sejam eles gestores das (ricas) escolas, sejam eles docentes.
Ocorre que, a bem da verdade, os profissionais da educação, os alunos, ou mesmo os estabelecimentos de ensino não sofrem reprovações nesse tipo de avaliação. A avaliação é baseada num padrão único e quem foge a esse padrão somente pode ter resultados distantes da média. Os resultados das avaliações devem, portanto, ser vistos como medidas que colocam os atores avaliados numa escala que permite que os resultados sejam comparados. Resultados aquém da média não implicam que as práticas escolares adotadas para o preparo dos alunos apresentem necessariamente algum problema. Tanto as escolas ou localidades cujos alunos obtiveram resultados considerados baixos, quanto aquelas que tiveram pontuações mais elevadas precisam ser vistas como sendo diferentes do padrão. E essa observação, ou essa identificação, será o gatilho que permitirá aos gestores maiores da educação no país avaliarem in loco que tipo de práticas vem sendo desenvolvidas nesses estabelecimentos. É preciso exercer a política educacional bem intencionada, independente de partido.
Você permitiria que um médico acompanhasse a sua saúde sem realizar exames? Os exames laboratoriais são testes padronizados. E alguns deles ainda ferem o paciente. Mesmo assim, os médicos não deixam de usá-los, independentemente do estado de saúde de seus pacientes.
Obviamente que não se pode esperar que todos se saiam muito bem, assim como não se pode esperar que se saiam todos muito mal numa avaliação escolar. E essa polêmica entre avaliar ou não avaliar em larga escala não é privilégio brasileiro. Há vários países que vivem a mesma questão.
Não é a questão de ver todos sob o manto da igualdade a mesma que defende o acesso ao ensino superior, no caso daqueles que não tiveram ao longo da vida, digamos, as melhores oportunidades educacionais? Por que avaliar de modos diferentes alunos que, em futuro, poderão se deslocar de suas cidades de origem para realizarem suas vidas em outras cidades? Não há como escapar: o Brasil precisa investir na base da educação, precisa mudar as crenças do brasileiro.
E para que não haja maiores enganos, vale lembrar que a escola não pode suprir o papel das famílias. As famílias tem o papel de educar seus filhos para que dêem o devido valor à vida, às suas raízes, ao seu país. Bem, mas não há como curar um mal coletivo com ações individuais, exceto quanto a que cada um faça a parte que lhe cabe. Nada mais.
MARCUS MATTOS REITHER, Conselheiro da ASPA e Estatístico
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